terça-feira, 9 de agosto de 2011

Arte Conceitual

 


Muitos artistas tem perguntado ao ArtePrática o que é a Arte Conceitual. Nessa matéria tentamos de uma maneira simples mas rigorosa introduzir o assunto aos nossos leitores.
A Arte Conceitual é, no Brasil, um campo de expressão artística muito pouco compreendido. Por culpa de muitos artistas, jornalistas e críticos de arte que tem tratado a idéia de arte conceitual como se esta fosse a única forma de Arte contemporânea, vários grupos de artistas ligados a outros tipos de expressão tem sentido que a Arte Conceitual é uma área fechada, somente acessível a poucos eleitos. A realidade não se mostra assim.
A arte conceitual nada mais é do que uma das inúmeras formas de expressão artísticas possíveis para o desenvolvimento de um trabalho pelo artista plástico.

"Fonte", apresentada por Duchamp em 1917

As discussões que levaram ao surgimento da Arte Conceitual são muito antigas. Começam no trabalho de Marcel Duchamp e continuaram através da primeira metade do século XX. Na década de 60 através das idéias veiculadas pelo grupo Fluxus a Arte Conceitual torna-se um fenômeno mundial. No Brasil artistas como Artur Barrio, Baravelli, Carlos Fajardo, Cildo Meirelles, José Rezende, Mira Schendel, Tunga e Waltércio Caldas começam a desenvolver um trabalho nessa forma de expressão.

cildo 

Inserções em Circuitos Ideológicos

Projeto Coca Cola

 

insercoes_em_circuitos_ideologicos

Cildo Meireles -  ‘Inserções em Circuitos Ideológicos:
Projeto Cédula: (Quem Matou Herzog?) 1970

Cildo MEIRELES .Zero Cruzeiro, 1974-78. Impressão sobre papel, 7 x 15,5 cm.


Para esclarecer um pouco mais a situação precisamos antes entender o que o termo Arte Conceitual significa.
Segundo Atkins, o termo Arte Conceitual se popularizou em 1967 depois que a revista americana ArtForum publicou o texto do artista minimalista Sol LeWitt intitulado “Parágrafos sobre a Arte Conceitual”. Nesse artigo o artista organiza as reflexões já existentes na área sobre uma arte que se desenvolve somente no campo das idéias, abandonando um pouco a materialidade da obra de arte.

 

abstrata

Mel Ramsden -1000 % Abstract, 1968

 

Mel Ramsden - Secret Painting

Mel Ramsden – Pintura secreta 1967-8 -  “ O conteúdo desta pintura é invisível, o caráter e dimensão do conteúdo devem ser mantidos permanentemente em segredo, que só é conhecido pelo artista”

Liquitex sobre tela 122x122 – Cópia fotostática

 

Nessa forma de expressão artística as idéias, reflexões e pensamentos do artista seriam mais importantes do que o objeto de arte em si. Como exemplo podemos dizer que na Arte Conceitual uma tela completamente coberta de tinta vermelha pode não ser mais entendida como uma pintura de cor única mas sim como um suporte das reflexões do artista: para ele talvez pintar a tela vermelha seja uma forma de refletir sobre a angústia e a violência no mundo.
Através desse exemplo podemos entender que a obra de arte conceitual exibida em uma exposição nada mais é do que um documento, um relato das reflexões do artista. Esse documento não usa a linguagem escrita, usa apenas a linguagem visual própria do artista plástico. Ao observador cabe tentar entender ou não essa reflexões.

Um exemplo de trabalho do artista On Kawara

 

É interessante notar que na Arte Conceitual o público é obrigado a deixar de ser apenas um observador passivo pois o entendimento da obra de arte não é mais direto. O público também é obrigado a refletir e sair da confortável situação de saber, por antecipação, avaliar se uma obra de arte é “ruim” ou “boa”. Não é mais Possível ir a uma exposição e dizer “essa paisagem está bem composta, a pintura é de qualidade”.
Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e a uso da luz podem não ter sentido nenhum na arte conceitual.
Bem, se o público é chamado a ter o trabalho de pensar sobre a obra de arte para aceita-la e entende-la, o trabalho do artista também não é menos difícil.

manzoni

Piero Manzoni, "Latas de Merda de Artista" (1961)

 

Pensar e refletir sobre a realidade de maneira sofisticada exige do artista uma referência que muitas vezes ele não tem.
Da mesma maneira como um pintor figurativo necessita estudar profundamente a sua técnica e forma de expressão para que possa fazer, por exemplo, um retrato de qualidade o artista conceitual necessita ter um profundo conhecimento de filosofia, história, cultura e informação sobre o mundo atual e artistas contemporâneos para que possa criar “reflexões” visuais consistentes. Esse esforço é fundamental para o artista interessado na arte conceitual: não podemos esquecer que é muito comum encontrarmos artistas que se dizem conceituais mas que são incapazes de discorrer poucas linhas sobre as reflexões contidas em seu trabalho. Essa situação só leva ao descrédito de sua produção e a de toda uma área artística. É devido a essa necessidade de estudo que a maioria dos artistas conceituais vem de uma formação universitária. Muitas vezes, compelidos pela necessidade de estudo, esses artistas acabam produzindo pesquisas de mestrado e doutorado em artes.

Keith Arnatt e a desmaterialização do próprio artista – Self-Burial (Autofuneral), 1969.- sugeria o desaparecimento do próprio artista – retracto irônico do destino do autor modernista às mãos da Arte Conceitual.

 

Atualmente os artistas conceituais produzem através de várias formas de expressão artísticas: video arte, fotografia, instalação, performance, internet art e Land Art. Cada uma dessas formas de expressão leva o artista a novos desafios e muitas vezes a uma volta para as formas de expressão tradicionais das artes, como a pintura, a gravura e a escultura. Esse movimento de Inter-relação entre tradições artísticas tradicionais e contemporâneas tem muitas vezes sido chamado de Neo-Conceitualismo.
Talvez o Neo-Conceitualismo nada mais seja do que a superação das pré-concepções que tanto tem atrapalhado a livre expressão do artista plástico na atualidade, possibilitando que ele possa enfim produzir arte sem ser rotulado como acadêmico ou contemporâneo. Talvez o Neo-Conceitualismo permita que o artista seja simplesmente um artista.

 

Por Maria de Castro – do Blog Arte Prática

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